LUIS ROBERTO BARROSO

Quando a vaidade se torna uma arma na guerra híbrida.

A quem serve a boca aberta de um ministro do Supremo?
Brasil 247

A recente declaração do ministro Luís Roberto Barroso de que o “apoio dos Estados Unidos foi decisivo para evitar um golpe de Estado no Brasil”  é um episódio revelador da crise institucional e informacional que o país vive.

Em meio a um cenário onde a extrema direita tenta emplacar uma narrativa revisionista sobre o 8 de janeiro de 2023, esse tipo de fala, vinda do presidente da mais alta cúpula do Judiciário, não apenas fragiliza a autoridade da Corte como oferece munição retórica àqueles que trabalham sistematicamente para confundir a opinião pública.

Barroso, em sua ânsia por reconhecimento e protagonismo público, parece esquecer que golpes não se evitam com discursos em auditórios estrangeiros, muito menos com a legitimação, mesmo que involuntária, da ideia de que potências estrangeiras têm autoridade para garantir a estabilidade institucional de um país soberano.

Ao contrário do que afirmou Barroso, não foi a diplomacia estadunidense que evitou a ruptura democrática no Brasil, mas sim a total ausência de condições objetivas e geopolíticas para que os EUA se envolvessem diretamente num golpe patrocinado por um aliado do trumpismo em pleno século XXI.

Essa declaração, mais do que vaidosa, é desastrosa. Ela reforça, mesmo que sem intenção, a percepção bolsonarista de que havia um plano legítimo de ruptura, e que ele só não prosperou por interferência externa. Ou seja, fornece o álibi perfeito para que setores extremistas, hoje em campanha aberta por anistia, construam a narrativa de que o Brasil sofreu, na verdade, uma intervenção internacional para impedir a “vontade popular”.

Publicado em 15/05/2025

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Patricia Amaral

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