O especialista em gestão acadêmica e avaliação do ensino superior, Alexandre Nicolini, analisou nesta quarta-feira (15) o lançamento do Programa Mais Professores para o Brasil do Ministério da Educação, afirmando que “haverá o questionamento das instituições de ensino superior privadas, que inicialmente estão excluídas do espaço de formação dos estudantes e docentes elegíveis”.
Segundo Nicolini, “ainda que na ausência de candidatos as escolas que integram o ProUni sejam chamadas a completar as vagas oferecidas, é preciso considerar que o Cadastro Nacional Docente, formado pelos professores elegíveis para a bolsa, provavelmente também será motivo de disputas entre Estados e Municípios. As 12.000 vagas anunciadas para o Pé-de-Meia Licenciaturas são pouco mais que o dobro de municípios brasileiros, mas apenas uma vaga para cada onze escolas públicas registradas pelo MEC”.
Alexandre Nicolini ressaltou também “o fato de que a EAD, embora tenha cursos respeitáveis na área das licenciaturas, tenha sido excluído – e também os seus estudantes – justamente nas localidades onde mais faltam professores qualificados”. Para o especialista, “essas dificuldades não são pueris, mas por outro lado não são desconhecidas e certamente estão sendo consideradas pelo MEC”. Para ele, “o que há de novo é que o debate da educação básica entrou na agenda do país e vê-se consistência nas ações do MEC: melhorar a formação, atrair bons candidatos, incentivar a permanência, avaliar os mais competentes, articular-se com as secretarias de educação e alocar professores nas especializações e localidades onde ele faz mais falta”.
Ao avaliar a nota de corte para que os estudantes possam receber o Pé-de-Meia Licenciatura, Nicolini lembrou que “os desafios são, como sempre, tão grandes quanto o país, já que a nota de corte é de 650 pontos, o que os situará entre os 20% melhores estudantes do Enem. Com esta pontuação, eles podem escolher praticamente qualquer curso no país, à exceção de Medicina. A remuneração dos profissionais de educação em 2024 usualmente não ultrapassa 86% da remuneração média de um profissional do ensino superior, o que é um importante fator de opção por outras carreiras.
Segundo o especialista, “a escolha das licenciaturas assusta pelas condições de trabalho nas escolas públicas, pois a docência é um trabalho desgastante que não se esgota em sala de aula. Um professor tem que preparar suas aulas, atualizar seus materiais, escolher metodologias e corrigir suas avaliações em casa, muitas vezes de forma não remunerada. Ele nem sempre conta com os materiais necessários para enfrentar classes de estudantes desfavorecidas e com dificuldades de aprendizado”.
Alexandre Nicolini voltou a destacar que, na sua avaliação, “existem várias causas para a falta de profissionais de educação para atendimento da demanda por escolarização básica em um futuro próximo, e a principal delas é a falta de valorização do docente, que afasta os jovens da carreira de professor”. E reafirmou que “o apagão de professores – especialmente em áreas mais complexas da licenciatura, aquelas que mais demandam professores especializados – pode estar ligado ao apagão de competências dos estudantes na educação básica, de professores universitários das licenciaturas, de projetos pedagógicos inovadores nas IES, de planejamento governamental atomizado em milhares de secretarias municipais de educação”.
Sobre Alexandre Nicolini – Doutor em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com estágio de doutoramento na Paris IX, Mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Administrador de Empresas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Especialista em Design Curricular e Avaliação de Aprendizagem, desenvolve metodologias de trabalho e programas de formação para IES que sintetizam sua experiência como pesquisador e orientador no stricto sensu e como gestor acadêmico, inclusive como reitor. Foi também avaliador ad hoc do Ministério da Educação (MEC) e líder de pesquisa na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD).
Participa da construção das políticas públicas de avaliação do ensino superior desde 1996, tendo orientado com sucesso diversos clientes a alcançar os melhores resultados, além de fazer palestras inspiradoras e ministrar oficinas práticas para dirigentes, coordenadores, professores e estudantes em IES de todas as regiões do Brasil. Em sua atuação, publicou mais de 60 artigos científicos sobre o ensino superior, que geraram mais de 800 citações, cujas referências podem ser consultadas em https://lattes.cnpq.br/0344124233231329. Seu artigo intitulado “Qual será o futuro das fábricas de administradores?” é um dos mais citados na área de Administração no país.
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