João Nascimento – Jornalista
Estou triste e, sinceramente, não gostaria de estar escrevendo este numa homenagem póstuma a um dos meus mestres no Jornalismo: Manoel Juraci de Souza Mota, 72 anos de idade, que passou para o outro lado do véu. Fui surpreendido com o telefonema da esposa dele, querida colega Armênia, que, inclusive, me pediu apoio na divulgação do doloroso fato, o que fiz de imediato. Mas confesso que me acovardei e não tive coragem de levar as condolências aos familiares de Juraci, nem no velório e nem no sepultamento, até mesmo para ficar com as melhores recordações do colega, amigo e mestre.
Juraci Mota sempre me visitava na Assembleia Legislativa de Goiás, onde trabalhava na Agência de Notícias da Casa de Leis. E, recentemente, nos encontramos; ele já estava em tratamento com o Dr. Jeovar Leite Guedes, médico naturista da melhor qualidade, que, inclusive, foi alvo recente de nossa homenagem. Minha parceria com Juraci vem desde os tempos da extinta Folha de Goiaz, passando por outros veículos de comunicação que marcaram época na imprensa, ao exemplo de O Estado de Goiás e Jornal da Semana. Jornalista e gente da melhor qualidade, sempre foi respeitado e querido entre os colegas.
Aliás, foram dezenas de homenagens postadas nas redes sociais por colegas que tiveram o privilégio de estudar e trabalhar com ele, de gratidão e tributo ao cidadão exemplar e profissional da melhor estirpe. Em uma delas, Jalles Naves lembra de quando organizaram as comemorações pelos 45 anos da formatura da turma deles do Curso de Jornalismo na Universidade Federal de Goiás (1969-1972, exatamente a segunda turma formada pela UFG). “Os festejos foram um sucesso, com homenagem aos pioneiros, palestra sobre um tema atual da comunicação, atividade a que nos dedicamos por muitos anos, e o relançamento do livro de José Lobo sobre a imprensa goiana, que saiu originalmente em 1949”, frisa Jalles, que também foi surpreendido com a notícia da morte de Juraci.
Juraci Mota, que acabara de completar 72 anos, acabou sendo vitimado por um câncer violento que descobriu há pouco mais de dois meses. Nascido no dia 19 de setembro de 1946, na cidade ribeirinha de Aragarças, GO, divisa com Mato Grosso, Manoel Juraci de Souza Mota ali estudou o antigo primário e permaneceu até os 14 anos. Mas já aos 12 anos de idade pensava em ser jornalista e escritor, influenciado pelas leituras periódicas dos artigos do jornalista David Nasser e do cronista Rubem Braga, na então principal revista do País – “O Cruzeiro” –, que seu pai, Benedito Raimundo de Souza, assinava. Mas tanto este quanto a mãe, Corina, desejavam que o filho se formasse em Direito.
Em 1960 passou a estudar no Instituto Samuel Graham, em Jataí, GO, onde cursou o antigo ginásio. Para continuar os estudos, mudou-se para Goiânia, matriculando-se no então no curso Clássico (nível médio) do Lyceu de Goiânia, tendo estudado também no Liceu de Campinas – bairro pioneiro da capital goiana. Habilitou-se, via vestibular, para o Curso de Jornalismo, onde formou-se em 1974. Um ano após iniciar a faculdade, começou a trabalhar como jornalista na empresa de seus sonhos de adolescente: os Diários Associados (revista “O Cruzeiro”), atuando na Rádio Clube e, em seguida, na TV Goiânia e no diário impresso Folha de Goiaz, onde foi editor geral.
Fez o Curso de Especialização em Marketing Político, também pela UFG; e foi professor da área de Comunicação na Faculdade Lions, em Goiânia. Embora aposentado, continuava atuante no Jornalismo. Atualmente, era o responsável pela edição e publicação do Informativo da Associação dos Auditores de Tributos do Município de Goiânia e voluntário na Fundação Logosófica, divulgando ensinamentos do conferencista e pensador humanista Carlos Bernardo Gonzáles Pecotche, que impulsionou a criação de centros culturais logosóficos em diversos países da América, assim como centros educativos em níveis primário e secundário.
Assim como outros colegas, aos exemplos de Valterli Guedes e Fernando Martins, que se somaram àqueles que publicaram lindas mensagens nas redes sociais, convivi com o Jura (assim que a gente o chamava) por mais de 30 anos. Encerro este com a transcrição de uma mensagem de Martins postada no WhatsApp: “Convivi com o Jura mais de 30 anos. Profissional dedicado, esposo amoroso, pai exemplar, amigo fiel, não conheceu o orgulho nem a vaidade; sempre um sorriso enriquecia seu rosto (a prova é a foto que ilustra esta homenagem); a palavra amiga não faltava; o grande coração tentava ajudar a todos; prestativo, dócil, jamais reclamou de alguma coisa; amava as pessoas e as riquezas mais simples da vida. Teve uma existência plena, como poucos”. Que Deus continue abençoando ricamente a sua linda família, a quem peço desculpas a cada membro, principalmente à Armênia e suas três filhas, por ter me acovardado no momento em que vocês mais precisaram de apoio amigo. Perdoem-me, em nome de Jesus!
João Nascimento, jornalista