Cecilia, de 80 anos, conheceu Manga quando trabalhava numa creche em Guayaquil. Ela tem quatro filhos e lembra ainda do carro amarelo que usava – da cor da camisa do Barcelona. O casal está unido há 45 anos, desde a passagem de Manga pelo Equador.
– A gente tem uma linda história de amor, mas hoje ele está terrivelmente doente. O câncer se espalhou pelo corpo, ele fez duas colostomias. Mas Manga é muito forte, nós somos muito fortes. Em 2020, disseram que ele estava para morrer. Diziam: “Manga vai morrer, Manga vai morrer”. Ele tomava morfina. Quatro anos (em tratamento) e ainda vivendo a vida, que é linda – diz Cecilia.
Manga foi, segundo a crítica especializada, um dos melhores goleiros da história do futebol brasileiro.
Foi o jogador brasileiro que teve o recorde de participação em edições na Copa Libertadores. Ficou conhecido por sempre jogar sem luvas.[6]
Em sua homenagem, foi instituído 26 de abril como o “Dia do Goleiro”.
Logo no início de carreira, ainda nos juvenis do Sport, Haílton já demonstrava que era um excepcional goleiro, ao conquistar o título pernambucano de juniores de 1954, sem sofrer nenhum gol. Foi, por isso, comparado ao então goleiro do Santos, Manga, e herdou o apelido.[7] Esta façanha chamou a atenção do técnico Gentil Cardoso, que logo cuidou de promover o jovem e talentoso arqueiro para o profissional do clube.
Manga, porém, quase foi parar no Vasco: já tinha ido ao clube, mas o Sport contava com um contrato de gaveta e pediu trezentos mil cruzeiros por seu passe – e Manga ficou.[7]
Manga tinha três irmãos boleiros: Manguito, Dedé e Alemão, que se destacaram no futebol pernambucano. O último, inclusive, era zagueiro central e atuou no América do Rio, sendo bom batedor de faltas e pênaltis. Dedé brilhou no Sport Club do Recife.[5]
Em 1955, aos 18 anos, Manga estreou na equipe principal do Sport[4], em um amistoso contra o Náutico, na Ilha do Retiro, substituindo o goleiro Carijó durante a partida. Foi pé-quente: o clássico terminou em vitória do Sport por 5–2. Somente em 1956, defenderia a trave rubro-negra pela segunda vez, novamente substituindo o goleiro Carijó, em uma partida amistosa contra o Fluminense de Feira na Ilha.
Foi durante a excursão do Sport à Europa e ao Oriente Médio, em 1957, que Manga começou a se firmar como goleiro titular da equipe. Nos jogos em terras estrangeiras, revezou a titularidade com outros dois grandes goleiros: Carijó e Osvaldo Baliza. Após as boas apresentações na excursão, tornou-se titular absoluto, status que perduraria até sua saída do clube.
No ano seguinte, conquistou sua primeira e única competição como titular rubro-negro: o Campeonato Pernambucano. O time campeão de 1958 era comandado pelo argentino Dante Bianchi e tinha em sua formação, entre outros, o uruguaio Walter Morel e os artilheiros Traçaia, Naninho, Gringo, Soca e Geo.
Já em 1959, Manga se despediria da Ilha do Retiro. Em sua última partida pelo Sport, contra o Ferroviário pelo Pernambucano, até gol marcou. Depois, partiu para o Botafogo.
Carreira no Botafogo

Destacou-se no Botafogo na década de 1960, onde jogou durante dez anos, tendo disputado a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra[2][4][5], como titular. Costumava dizer que em jogos contra o Flamengo, gastava adiantadamente o valor da premiação pela vitória sobre o rival, tamanha a certeza que o atleta tinha de um placar favorável à sua equipe. Dizia que “o leite das crianças já estava garantido”.[8]

Foi o maior goleiro da história do Botafogo. Veloz ao repor a bola e ágil debaixo das traves, fez muitos milagres pelo Glorioso. Na equipe de General Severiano, levantou quatro Campeonatos Cariocas e três Torneios Rio-São Paulo e o Torneio Intercontinental de Paris. O goleiro estreou pelo clube em julho de 1959, aos 22 anos de idade. Por seu estilo arrojado, teve as mãos deformadas devido a tanto trabalho.[2] 8 anos mais tarde foi negociado com o Nacional do Uruguai acusado de ter se vendido a Castor de Andrade, patrono do Bangu. No total foram 442 jogos defendendo a camisa alvinegra, sofrendo 394 gols.
Seleção Brasileira
Em 21 de novembro de 1965 em um amistoso do Brasil contra a União Soviética no Maracanã Manga falhou duas vezes e o Brasil tomou o empate em 2 a 2, depois de estar ganhando de dois a zero dos soviéticos. No primeira falha, o goleiro bateu o tiro de meta na cabeça do adversário, deu às costa para o campo e quando percebeu a bola veio direto para o gol. Na segunda, ele saiu jogando com a bola e deu direto nos pés do atacante soviético que empatou o jogo.[9]
Uruguai e a dupla Gre-Nal
Manga chegou ao Uruguai a contragosto. Na época, sua esposa não acompanhou o marido para o exterior e resolveu voltar com os filhos para Recife.[6] Queria continuar no Brasil e já tinha se programado para ir para o Atlético Mineiro.
A transação, porém, não evoluiu e ele acabou indo para o Nacional. No time uruguaio, desde a estreia, em 7 de setembro de 1968, passaram-se 339 minutos sem que levasse gol.[7] Ali, foi várias vezes campeão nacional e uma vez campeão da Taça Libertadores da América e do Intercontinental.
Destacou-se também no Internacional em 1975 e 1976, sendo campeão brasileiro naqueles anos e tornando-se um dos maiores ídolos da história do clube. Em 1975, quando o time colorado chegou à final do Campeonato Brasileiro, o goleiro estava com dois dedos da mão quebrados, tirou o gesso e foi para o jogo.[6]
Manga considera sua defesa mais difícil da carreira um chute do lateral-direito Nelinho, do Cruzeiro, na final do Brasileirão de 1975.[2] Os colorados não esquecem sua magnífica defesa formada por Manga, Cláudio, Figueroa, Hermínio e Vacaria.[5]
Em 1976, o tenente Raul Carlesso e o capitão Reginaldo Pontes Bielinski, ambos professores da Escola de Educação Física do Exército, criaram o “Dia do Goleiro” no Brasil.[6]
Depois jogou no Operário-MS (1977), Coritiba (1978) e no Grêmio (1978 – 1979). Os gremistas têm saudade da sólida retaguarda com Manga, Eurico, Ancheta, Vantuir e Dirceu. Pela primeira vez em muitos anos, puderam os tradicionais rivais do futebol gaúcho declinar a escalação de seu time dando o nome de um mesmo jogador. Havia um acordo tácito entre a dupla Gre-Nal de que um clube não contrataria um jogador que tivesse jogado no rival. Este acordo foi quebrado, acusam os colorados, quando o Grêmio contratou Manga.[6] O Grêmio se defende, alegando que a proibição era adquirir o passe de um jogador diretamente do Internacional. Como, na ocasião, Manga jogava pelo Coritiba, o acordo tácito não teria sido quebrado. O certo é que, a partir daí, vários jogadores passaram do Inter para o Grêmio e vice-versa.
No Equador, onde terminou a carreira[2], em 1982, aos 45 anos[6], onde foi campeão nacional em 1981 pelo Barcelona.
Após fim da carreira de atleta
Depois de viver no Equador, em Salinas,[10] desde a década de 1980, mudou-se para o Uruguai para realizar um tratamento de saúde. O Cônsul do Uruguai no Equador, conseguiu reunir um grupo de torcedores, Campeón Para Toda La História, arrecadaram fundos e trouxeram o ex-atleta para o Uruguai para tratamento de uma insuficiência renal aguda. Manga recebeu auxilio financeiro, tratamento e morou na casa de um torcedor por um mês, até se mudar para um apartamento alugado na área central de Montevidéu. Uma torcedora botafoguense ficou sabendo da campanha e se mobilizou na internet para uma vaquinha. Conseguiu arrecadar cinco mil reais, que foram enviados para o ex-jogador.[11][12]
Também prestou serviços de ídolo (embaixador) em festas de consulados e também exerceu a função de supervisor de treinadores de goleiros do Sport Club Internacional, até 2012.[5]
Em 2019, ele começou a enfrentar problemas renais, passando por diversas internações em Quito.[5]
O ex-atleta teria passado por dificuldades de saúde e financeiras e vivia no Retiro dos Artistas,[13][14] com sua mulher Maria Cecília.[2] A presença do ex-goleiro no local foi resultado de uma mobilização encabeçada pelo jornalista Marcelo Gomes, da ESPN, em meados de 2020.[2]
Títulos

- Sport
- Campeonato Pernambucano: 1955, 1956 e 1958
- Botafogo[15]
- Nacional-URU
- Campeonato Uruguaio: 1969, 1970, 1971 e 1972
- Copa Libertadores da América: 1971
- Copa Intercontinental: 1971
- Copa Interamericana: 1971
- Internacional
- Operário-MS
- Coritiba
- Grêmio
- Barcelona de Guayaquil-EQU
- Campeonato Equatoriano: 1981
Outras conquistas
- Botafogo
- Torneio Internacional da Colômbia: 1960
- Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo: 1961
- Torneio Internacional da Costa Rica: 1961
- Torneio Pentagonal do México: 1962
- Torneio Internacional de Paris: 1963
- Torneio Jubileu de Ouro da Associação de Futebol de La Paz: 1964
- Torneio Quadrangular do Suriname: 1964
- Torneio Íbero-Americano (Quadrangular de Buenos Aires): 1964
- Torneio Governador Magalhães Pinto: 1964
- Torneio Quadrangular de Teresina: 1966
- Copa Carranza de Buenos Aires: 1966
- Taça Círculo de Periódicos Esportivos: 1966
- Torneio de Caracas: 1967
Prêmios individuais
- Bola de Prata: 1976 e 1978
- Time do século do Botafogo: 2004[17]
- Time dos sonhos do Botafogo (Placar): 1982, 1994 e 2006[18]
- 12° Maior ídolo da História do Botafogo (O Globo): 2020[19]
- 15.º melhor goleiro de futebol do século XX na América do Sul da IFFHS[20]
- 4.º melhor goleiro de futebol do século XX no Brasil da IFFHS
Publicado em 08/04/2025