João Nascimento – Jornalista
Caçula de quatro mulheres, Fatima L Santos Valentin, natural de Goiânia, é uma desportista e professora detentora de um legado inestimável para o esporte.
Fátima Valentim
Depois dela, nasceram dois homens. Ela agradece muito a criação que teve, juntamente com as manas e os manos, dos pais, Eustórgio Oliveira dos Santos e Joana Luiza dos Santos, de Morrinhos-GO, que labutaram pra dar uma ótima educação para os filhos.
Fátima Valentim e a mãe, Da. Joana
Fátima conta que infância igual a que teve ao lado das irmãs e irmãos só pra quem viveu nas ruas de terra vermelhas. “Não faltavam brincadeiras, entre pique de pega, pega ou de esconder, barra manteiga, queimada, soltar pipa e cortar a linha do colega, buscar a danada da pipa longe e exibi-la, como se fosse um troféu. E muito mais: cantigas de roda, bilboquê, finca e bolinha de gude; e ainda sobrava tempo para o bando furtar as frutas do hospital Adalto Botelho, que era no fundo de casa. Pulávamos a cerca e fazíamos a festa”, lembra com alegria.
Mas recorda, também, que, em algumas vezes, ficavam presos nos topos das mangueiras, pés de jaboticaba ou de outras árvores frutíferas, esperando os pacientes passarem de um quintal para o outro. “Conforme crescíamos, o esporte entrava e crescia em minha vida. A quadra de vôlei na rua foi substituída pelas quadras do Clube Antônio Ferreira Pacheco e Jóquei Clube, sempre com excelentes professores e uma assistência de dar inveja”, ressalta Fatima Valentin.
E lembra muito bem que, em janeiro de 1974, fez parte da primeira iniciação esportiva, promovida pelo Sesi, no Ferreira Pacheco, “onde conheci o amor de minha vida, professor Carlos Augusto Valentin, recém-formado da Esefego”, frisa, maravilhada.
Foto antiga ESEFEGO
A partir daí, Fatima conta que os treinos continuaram mais focados no basquete, foi quando chegou à Seleção Goiana e disputou os JEBs, em 75. E enfrentava dupla jornada, ou seja, quando não estava dentro de quadra, jogando; estava fora de quadra, trabalhando como mesária, onde na maioria das vezes, o Carlos Valentin arbitrava a partida.
Carlos Valentim e Fatima Valentim
Fatima e Valentin se casaram em setembro de 1978 e, com as bênçãos de Deus, a carreira profissional de ambos crescia de tal modo que contribuíram grandemente para o desenvolvimento do esporte no Estado de Goiás.
Carlos Valentin ministrava aulas de basquete e vôlei, enquanto Fatima dava aulas de natação e, também, de voleibol. Estavam morando e trabalhando, em Inhumas, pela Fundação Estadual de Esportes.
Depois transferiram residência para Quirinópolis, em março de 1986, onde ensinavam vôlei, basquete e natação. Quando chegaram na cidade, Quirinópolis tinha sediado uns jogos e ficou em último lugar. E, após três anos de dedicação, foram tantas vitórias, que surpreenderam a todos.
Familia Valentim
Infelizmente, nem tudo são louros. A carga de trabalho, os afazeres do lar e os projetos estavam sufocando Fatima, que sempre queria dar o seu máximo, mas o seu corpo não correspondia mais como antes. Em junho de 92, depois de uma bateria de exames, foi diagnosticada com um tumor na cervical; em agosto, fez sua primeira biopsia e constatou que se tratava de um Epidimoma, oriundo do tecido embrionário (nasci com ele), e, apesar de benigno, era recisivo, ou seja, retirava e ele crescia novamente.
E a luta seguia. Em maio de 94, fez cirurgia na cervical. Nova e saída, a recuperação de Fatima era satisfatória, e, apesar das sequelas, voltava a trabalhar e viver um dia de cada vez. Já em 99, com um quadro bem grave, o médico pediu outra cirurgia. “Eu recusei e pedi encaminhamento para o Sarah. Só consegui ir para o Sarah, em julho de 2002, já muito debilitada, porém andando.
Equipe do CRER de Bochaparalimpica
Feitos os exames necessários, marcou-se a quarta cirurgia para o mês de outubro. Quando me internei, já não andava. Mediante ao quadro, fizeram uma retirada quase que total do tumor e durante a recuperação tive meningite, o que agravou para tetraplegia. Quando recebi alta, em dezembro, já parei na porta do CRER e fiz meu prontuário nº 976. Também fiz 28 sessões de radioterapia pra inibir o crescimento do MSM, procedimentos com sucesso, pois ele não cresceu mais”, narra Fatima.
Fátima e Carlos Valentim – Calha Bochaparalimpica
E finaliza, com um resumo fantástico: “Vida nova, muitas mudanças, aprendizado, quedas, obstáculos, desafios, fisioterapia, lutas, desânimo, saco cheio… resiliência e, aos poucos, fui me adaptando. Felizmente, a fé e a presença divina falaram mais alto. Hoje, tenho plena fé de que o meu fortalecimento veio de Deus, está em Deus e por Deus tenho alcançado paz. E, sempre confiante em Deus, tento levar esta difícil caminhada com uma boa qualidade de vida”.
Esporte sempre, praticando e ensinando!
Que Deus continue te abençoando ricamente, grande guerreira do Senhor dos Exércitos!
Publicado em 13/07/2024