Educação

Desempenho nas Licenciaturas cairá no novo Enade.

Os estudantes e as instituições de ensino superior do país devem se preparar para os resultados do novo Enade das Licenciaturas, a ser aplicado no próximo mês de novembro, pois acredito que haverá uma queda significativa na Média Brasil, que indica o desempenho geral das IES. O Enade está mais profissional e vai nos fornecer novas evidências, permitindo ver onde estamos falhando na formação de professores.

As novas premissas, regras e métricas do Enade das Licenciaturas contribuirão para aperfeiçoar os cursos de formação docente no Brasil. As principais mudanças dizem respeito aos novos objetivos do exame e às matrizes de referência que os formularão, pois o foco estará mais na avaliação das competências docentes do que nos conteúdos disciplinares de cada curso. O impacto será bem sentido pelas IES que montam currículos tradicionais centrados em inúmeras disciplinas diferentes que não conversam entre si e não se articulam com a prática.

Estou convencido de que a queda no desempenho nas Licenciaturas será ainda pior nas IES que continuam formando professores por conteúdos programáticos, à moda dos currículos mínimos do século 20, e não por competências profissionais preconizadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais, como pressupõe o arcabouço regulatório do ensino superior atual no Brasil.

Um dos desafios que envolvem a execução do novo Enade das Licenciaturas, que terá um novo modelo de itens e dois tipos de avaliação, uma teórica e outra prática, é que o aumento de 65% de questões na prova teórica exige muito mais dos estudantes formandos. Será necessário utilizar um novo modelo de questões, baseadas em estudos de caso e situações-problema, mais próximo do exercício profissional docente. O desafio é que os estudantes passaram quatro anos fazendo provas menos sofisticadas do que o novo exame e estudaram mais conceitos teóricos do que a sua aplicação prática.

É fato que se discute muito a formação dos professores, mas não o preparo daqueles que formam os professores. Sem que os professores universitários estejam qualificados para lecionar metodologias de ensino-aprendizagem, não haverá um professor no ensino básico (infantil, fundamental e médio) pronto para ensinar adequadamente nossas crianças e adolescentes. O mesmo se passa com a avaliação: como saber se o formando em Licenciaturas está preparado para a função, se os professores universitários não sabem produzir questões para verificar as competências adquiridas?

Para as IES obterem bons resultados é preciso coordenar a avaliação de resultados acadêmicos, acompanhar o desenvolvimento de competências e aprimorar o planejamento curricular para garantir uma boa formação. Além disso, adotar ferramentas para melhorar a avaliação integrada das unidades curriculares e criar processos que permitam uma evolução contínua no aprendizado dos alunos.

Numa escala de 1 a 5, onde o 3 é considerado o padrão mínimo de qualidade, as IES devem procurar sempre o melhor: ter conceito 4 para estar entre as 15% melhores do país, ter conceito 5 para estar entre as 2% mais celebradas. Isso envolve estudar dados, apurar os fatos por evidências, criar regras para moldar comportamentos, construir fluxos de trabalho unívocos, definir metas exequíveis e estabelecer datas para as entregas. E para fazer tudo isso é preciso usar métodos de gestão de aprendizagem.

Tenho certeza de que o novo Enade contribuirá para o debate de requisitos de formação dos novos professores. Nunca o exame foi tão importante para verificar se os estudantes de Licenciatura estão se tornando capazes de dar as respostas que a sociedade precisa. Os formandos precisarão estar fundamentados no rigor conceitual que lhes permitirá estabelecer na prática diagnósticos educacionais e propor condutas didáticas que permitam à educação funcionar como mola propulsora para empregos e empreendimentos que estejam à altura dos desafios de desenvolvimento do país.

Se o novo Enade conseguir traduzir na prática seus objetivos, teremos referências importantes para reformular a docência no país. Contudo, não podemos esquecer que esse é apenas o primeiro passo. Será mais que necessária a adoção de uma política pública consistente para qualificar os professores universitários das Licenciaturas de forma a garantir a competência dos futuros professores do país.

(*) Alexandre Nicolini é educador, doutor em Administração e especialista em gestão acadêmica e avaliação da aprendizagem no ensino superior.

Publicado em 11/12/2024