O impacto que a Inteligência Artificial (IA) vem causando no mundo do trabalho deve chegar a quase todas as profissões. Um relatório do Goldman Sachs prevê que 300 milhões de empregos sejam atingidos só nos EUA e União Europeia e que ela será capaz de gerar conteúdo capaz de fazer um quarto do trabalho realizado hoje por seres humanos.
Uma das categorias que já começa a sentir os efeitos desta tecnologia é a de corretor de imóveis.Já existem mais de 630 mil profissionais em atividade no Brasil, segundo dados do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci) e, ao longo de 62 anos de regulamentação, eles conquistaram o reconhecimento do consumidor. Pesquisa realizada pelo Grupo OLX neste mês de agosto revela que 87% das pessoas que lidam com corretores de imóveis – sejam proprietários ou quem está em busca de um lar – consideram o profissional importante ou muito importante nas transações.
Mas existe uma crise em curso. Avatares programados com IA estão sendo integrados às rotinas de atendimento do consumidor no lugar do atendimento que outrora era exclusivo do corretor de imóveis. “Eles são capazes de responder às perguntas sobre o imóvel, como descrição, informações sobre o bairro, preço, enviar imagens, tudo em um diálogo fluído, que se assemelha a uma conversa entre pessoas”, explica Marcus Ferreira, founder da startup goiana Acelériun Hub de Inovação. Ele desenvolveu a Corretora.ai, que já está presente em 16 estados brasileiros.
As Corretoras.ai estão sendo utilizadas pelas imobiliárias e incorporadoras para fazer o atendimento digital ao cliente, que hoje é a primeira forma de contato da maioria de consumidores que começam a procurar um imóvel. Ela é capaz de informar em poucos segundos toda a disponibilidade de um determinado imóvel em um bairro, cruzar dados e fazer filtros específicos para selecionar com mais assertividade as ofertas que se encaixam ao que o consumidor procura.
“Estamos vivendo uma transição. Em curto prazo, o corretor não vai mais vender um imóvel porque sabe de duas ou três ofertas específicas que o restante de seus colegas de mercado não sabem. A inteligência virtual vai saber de tudo isso e informar isso muito rapidamente”, continua.
Profissão vai acabar?
A eficiência da inteligência artificial ofusca uma característica do profissional muito valorizada por quem está procurando um imóvel. Segundo a pesquisa do Grupo OLX, mais da metade dos entrevistados (54%) definiu a agilidade do profissional em responder mensagens e tirar dúvidas. “Neste quesito, será impossível concorrer com ela”, diz Marcus.
Mas ele garante que, longe de ser uma ameaça, a inteligência artificial pode ser uma grande aliada. Basta lembrar que a compra de um imóvel não é uma decisão rápida, mas os consumidores esperam respostas imediatas quando entram em contato, mesmo que façam perguntas durante a madrugada.
“A tecnologia te libera de tarefas repetitivas e que normalmente te prendem nos mais diferentes horários”, diz. Em sua visão, a AI deve ser usada como uma aliada e o futuro da corretagem de imóveis está assegurado para aqueles que souberem aliar suas capacidades humanas com o potencial das ferramentas tecnológicas, garantindo um serviço mais completo e personalizado.
Marcus, que também já trabalhou como corretor de imóveis e conhece as nuances da profissão, considera que o papel do profissional ficará muito mais concentrado no relacionamento e no que ele chama de energia da venda. “A inteligência artificial é eficiente em reunir informações, mas ela não tem a capacidade de aconselhar e orientar. Os profissionais deverão se concentrar e aprimorar nisto”, diz.
Publicado em 29/08/2024