Educação

Causas do desinteresse dos alunos pelas licenciaturas.

“Muitos têm defendido a EAD nas licenciaturas a qualquer preço, sob a ótica da inclusão. Mas essa ideia está distante da realidade brasileira e das boas práticas da educação a distância. A solução para o problema não está na formação de professores por meio da EAD sem critérios de qualidade”, afirmou o especialista em gestão acadêmica e avaliação da aprendizagem no ensino superior Alexandre Nicolini, ao comentar dados recentes da Universidade de Campinas (Unicamp), que mostram que o número de inscritos no vestibular dos cursos de formação em educação naquela universidade vem diminuindo e o índice de abandono aumentou entre os que estão cursando.

A taxa de conclusão acumulada nas licenciaturas da Unicamp foi de 46% e a desistência acumulada, de 54%, contra 36% de desistência na média geral dos cursos da instituição. Com base em resultados como esses, que se repetem nas IES de todo o país, um estudo do Semesp projetou um déficit de 235 mil docentes no Brasil em 2040.

Segundo Nicolini, “existem várias causas para o apagão de profissionais de educação e a principal delas é a falta de valorização do docente, que afasta os jovens da carreira de professor”. Mas o especialista destaca que todos os testes internacionais apontam para o insucesso do sistema educacional brasileiro em toda a educação básica. “PISA, TIMSS, PIAAC: em qualquer que seja o teste, os resultados serão os mesmos. Em pesquisa chamaríamos isso de esgotamento do campo”, afirmou.

“Se numa instituição de ensino superior de ponta como a Unicamp o interesse pelas licenciaturas é pequeno e o índice de abandono é alto, isso pode significar duas coisas, que podem estar interrelacionadas: a carreira é muito pouco atrativa e os candidatos sequer estão aguentando o nível de exigência do curso”, comentou Nicolini.

Para o especialista, “no final, o apagão de professores – especialmente em áreas mais complexas da licenciatura, aquelas que mais demandam professores especializados – pode estar ligado ao apagão de competências dos estudantes na educação básica, de professores universitários das licenciaturas, de projetos pedagógicos inovadores nas IES, de planejamento governamental atomizado em milhares de secretarias municipais de educação”.

E completou: “Essas são algumas das causas, e existem outras. Mas garanto que nenhuma delas se resolve com a aquisição de diplomas em suaves 48 prestações de R$ 99,00”.

Sobre Alexandre Nicolini

Doutor em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com estágio de doutoramento na Paris IX, Mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Administrador de Empresas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Especialista em Design Curricular e Avaliação de Aprendizagem, desenvolve metodologias de trabalho e programas de formação para IES que sintetizam sua experiência como pesquisador e orientador no stricto sensu e como gestor acadêmico, inclusive como reitor. Foi também avaliador ad hoc do Ministério da Educação (MEC) e líder de pesquisa na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD).

Participa da construção das políticas públicas de avaliação do ensino superior desde 1996, tendo orientado com sucesso diversos clientes a alcançar os melhores resultados, além de fazer palestras inspiradoras e ministrar oficinas práticas para dirigentes, coordenadores, professores e estudantes em IES de todas as regiões do Brasil.

Publicado em 08/01/2025