A cada 10 minutos, uma pessoa foi multada por desobedecer a Lei Seca nas rodovias federais brasileiras em 2024. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre janeiro e setembro, foram registradas 45.930 mil infrações entre recusa de fazer o teste do bafômetro e constatação de embriaguez. É nesse contexto que órgãos de trânsito e as policiais rodoviárias se preparam para mais um período de festas. “O consumo de álcool nessa época do ano cresce muito por causa das festas e isso se traduz em mais imprudência, acidentes e mortes”, comenta a presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG) e psicóloga especialista em Trânsito, Adalgisa Lopes.
Segundo a especialista, além de afetar negativamente funções cerebrais essenciais, comprometendo a coordenação motora, o equilíbrio e a leitura espacial, o álcool deixa os reflexos mais lentos, diminui a concentração e capacidade de multitarefa, aumentando significativamente o risco de acidentes. “Além disso, o álcool causa alterações de humor, perda de inibição e discernimento, aumento da agressividade, dificuldades de raciocínio e prejuízos na memória e julgamento. Motoristas sob efeito de álcool são mais propensos a dirigir em alta velocidade e a desrespeitar as leis de trânsito”, comenta Adalgisa.
Leis duras X sensação de impunidade
O Brasil enfrenta um paradoxo: possui uma das legislações mais rígidas do mundo contra a combinação de álcool e direção, mas ainda registra números alarmantes de acidentes, feridos e mortes causados por motoristas embriagados. Fatores culturais, como o “jeitinho brasileiro” e a banalização do consumo de álcool, especialmente entre jovens, contribuem para a persistência desse problema.
PRF intensificou fiscalização contra alcoolemia em 2024
A alta incidência do consumo de álcool, somada à percepção de impunidade e à leniência na aplicação da lei, reforçam a sensação de que dirigir alcoolizado não acarretará consequências graves, perpetuando o ciclo de tragédias no trânsito.
Dados alarmantes revelam a magnitude do problema: somente nas rodovias federais, o consumo de álcool provocou 2.866 acidentes com 2.276 feridos e 142 mortos nos nove primeiros meses de 2024. “O consumo de álcool, enraizado na cultura brasileira e associado a momentos de lazer e socialização, mascara os seus efeitos sobre a capacidade de dirigir, como a redução da atenção, reflexos e o aumento da impulsividade. Esse contexto exige uma abordagem multifatorial para combater o problema”, comenta Adalgisa.
A solução, diz a especialista, passa por uma combinação de ações: aplicação rigorosa da lei, responsabilização efetiva dos culpados, aumento da fiscalização e campanhas educativas de longo prazo. “Precisamos desconstruir a cultura de permissividade em torno do álcool e direção, conscientizando a população sobre os riscos envolvidos”, diz a presidente da ACTRANS-MG.
Segundo ela, a educação, iniciada precocemente e com abordagem consistente, aliada a campanhas de conscientização impactantes, com a colaboração do governo, sociedade civil e iniciativa privada, são fundamentais para a construção de um trânsito mais seguro e responsável para todos.
Publicado em 11/12/2024
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