GE – Por Flávia Tavares, Marcelo Barone e Priscilla Basilio — Rio de Janeiro
A equipe recém-chegada à divisão de elite da Superliga, Neurologia Ativa, não tem vivido uma fase boa desde sua estreia.
Com salários atrasados de jogadores e da comissão técnica, a equipe já perdeu três jogadores e precisou demitir o técnico Pedro Moska.
A CBV confirmou ao ge que antecipou uma ajuda financeira ao clube goiano, que passa por um momento de incertezas na competição, com sete derrotas consecutivas. A reportagem apurou que o valor do aporte é de R$ 70 mil.
Johan Marengoni foi o primeiro jogador a pedir o desligamento da equipe devido aos atrasos nos pagamentos.
O ex-técnico da equipe, Pedro Moska, chegou a comentar em entrevista para o sportv2, em outubro, sobre a insegurança do time frente à situação crítica do clube.
– Perdemos Johan. É um assunto delicado, porque a gente acredita no projeto, lógico. Vocês já estão sabendo, estamos com os salários atrasados. Muita gente está ajudando, correndo atrás, mas a Superliga começou. O tempo urge, já perdemos um, estou com medo de perder mais. Tem gente que é pai de família, dois que estão com as esposas grávidas e salário atrasado. É difícil – lamentou Moska.
No fim de novembro, Moska foi dispensado pelo clube, que já somava seis derrotas e voltou a ser dirigido por Derivaldo Mota, técnico que levou o time à divisão A da liga. Entre os jogadores, além de Johan, o oposto Rodrigo Telles, conhecido como Alemão, e o ponteiro Eduardo Wurster também pediram o desligamento do time.
Em entrevista ao ge, Alemão, que ficou três meses com a equipe, contou que chegou a receber apenas um salário integral.
– Dos três meses que eu fiquei, recebi um percentual do primeiro salário, o segundo inteiro e metade do último. Dos atletas, o salário não estava tão atrasado, na época. A comissão técnica é que não tinha recebido quase nada desde que começou. Uma situação complicada para eles – contou.
Rodrigo também comentou sobre o impacto da crise financeira do clube sobre a motivação da equipe, que segue na lanterna da competição.
– A motivação dos atletas cai, alguns não têm outra fonte de renda. É conta atrasando em casa, o cara fica com a cabeça totalmente perdida. Interfere demais, por mais que a pessoa seja profissional. O que mais pega é a incerteza de não saber quando vai ver o dinheiro – desabafou.
Crise pode piorar?
Com três meses de salários atrasados, os jogadores do Neurologia Ativa ameaçam não jogar as partidas como forma de protesto. Este cenário pode agravar ainda mais a situação da equipe, já que, em caso de W.O, há a perda de dois pontos.
Sávio Beniz, fundador do projeto e ex-presidente do Neurologia Ativa, relatou ao ge que, assim que conquistou o vice-campeonato da Superliga B 2023/2024, pensou em não inscrever a equipe para a disputa da Superliga A justamente por falta de verba. Ele disse que desistiu da ideia e manteve o time na competição depois de promessas do Governador de Goiás, Ronaldo Caiado, de que haveria apoio financeiro para jogar na elite do vôlei nacional.
– No dia que terminou a Superliga B, o governador estava na Goiânia Arena, e depois se reuniu com a gente. Ele nos convidou para um jantar no Palácio das Esmeraldas, e lá contamos a história do projeto de cada um, o Goiás (campeão da Superliga B) e a gente. Expliquei para o governador que a gente não tinha condições de jogar e ele falou publicamente que iria ajudar, iria fazer a parceria com os dois times para poder ajudar a jogar a Superliga A. Até hoje, a gente não teve essa ajuda – disse Sávio, que está inscrito na Superliga como líbero da equipe.
Segundo Sávio, o governo contribuiu ao ceder o Ginásio Rio Vermelho para mando dos jogos da equipe e pagou o valor da inscrição da Superliga A. Além disso, o Neurologia Ativa possui o patrocínio de uma empresa estatal goiana. No entanto, a ajuda é “insuficiente para jogar um campeonato desse nível”, de acordo com o criador do projeto.
Em nota, a CBV diz ter critérios estabelecidos para atestar a regularidade das equipes participantes. Uma das exigências da organização é que os clubes apresentem uma comprovação de que não possuem débitos pendentes com os jogadores. No entanto, não existe nenhum tipo de requisito para a comprovação de orçamento, já que muitos patrocínios são adquiridos ao longo da temporada.
Confira abaixo a declaração da CBV na íntegra.
Para participar da Superliga, todos os clubes precisam apresentar comprovação de que não têm débito pendente com qualquer atleta. Os documentos são analisados por uma comissão de advogados independente, que atesta a regularidade da equipe. Todos os clubes também são informados sobre as responsabilidades e as necessidades de infraestrutura, deslocamento, hospedagem e itens obrigatórios do regulamento, que é elaborado com a participação dos próprios clubes. É importante destacar que a equipe pode abrir mão da vaga conquistada na Superliga B e, uma vez que aceita participar da competição, a CBV entende que este é um compromisso com os demais participantes, com os torcedores e com o próprio voleibol brasileiro.
A CBV está sempre atenta às questões relacionadas aos clubes que disputam as três divisões da Superliga, compreende as dificuldades de captação de patrocínio para o esporte de alto rendimento e está à disposição para auxiliar no que for possível, sempre dentro das regras e do que foi acordado com os próprios clubes para cada competição. No caso do Neurologia Ativa, a CBV mantém contato constante com a direção da equipe, que sempre reiterou seu compromisso de disputar a Superliga 2024/2025 até o final.
A CBV repassa aos clubes uma ajuda de custo em duas parcelas a cada edição da Superliga. A equipe do Neurologia Ativa solicitou um adiantamento desse valor e, por entender que essa ação seria fundamental para a continuidade da equipe na competição, a CBV acatou o pedido.
Publicado em 07/12/2024
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